Do Fundo da Toca: Porque “Brinquedo Assassino” ainda é bom

Na onda de slashers dos anos 1980, um dos últimos a se estabelecer como franquia foi “Brinquedo Assassino” (Child’s Play) em 1988. Ainda assim, conseguiu criar as bases de uma franquia que dura até hoje e cujo primeiro filme é uma aula de como criar uma história de boneco maligno, assim como uma narrativa emocionante de terror policial.

Lembremos que a história de objetos inanimados que criam vida existe há milênios, indo dos homúnculos dos alquimistas ao golem judaico. O inventor Thomas Edson, no século 19, criou a uma das primeiras bonecas falantes reais e, ao mesmo tempo, uma das primeiras a criar má fama, pois, seu aparelho de gravação primitivo ficava deformado rapidamente, gerando uma voz cada vez mais macabra e incompreensível, que resultou numa devolução em massa do brinquedo.

No mundo do cinema, um dos precursores é “Passe de Mágica” (Magic) de 1978, no qual um ventríloquo – interpretado por Anthony Hopkins – enlouquece progressivamente, com a marionete virando uma manifestação de sua segunda personalidade descontrolada.

Com história original de Don Mancini (que também é um dos roteiristas junto a John Lafia e Tom Holland – este, também diretor do longa), em “Brinquedo Assassino”, vemos um criminoso (Charles Lee Ray, interpretado por Brad Dourif) ficando à beira da morte após um confronto policial, utilizando-se então de feitiçaria, a fim de transferir sua alma para um boneco e poder se vingar de seus assassinos.

O primeiro ponto envolve Andy Barclay (Alex Vincent), o garoto que pega o brinquedo para si e a sua mãe Karen (Catherine Hicks). À medida que as mortes vão acontecendo e as pistas indicam para um criminoso do tamanho de uma criança, gerando as suspeitas de que o menino, sempre próximo dos crimes, esteja matando.

Considerando que não vemos o brinquedo se mover até a metade do filme, apenas a criança falando com ele (e sem escutarmos respostas), mesmo para o telespectador fica a dúvida se o boneco está matando as pessoas diretamente ou manipulando o menino para fazê-lo. Além disso, temos todo o desespero de sua mãe diante das duas possibilidades: ou seu filho enlouqueceu ou está ameaçado por uma força maligna.

Esses fatores, somado a pequenos elementos como a forma ilícita pela qual o brinquedo é comprado, o próprio boneco ser de um desenho bem infantil, a exposição das notícias de crime na televisão, reforçam a ideia de inocência ameaçada ou corrompida em múltiplas camadas.

Quando pensamos no vilão, temos um detalhamento bem acima do normal de suas motivações. Seu histórico tanto como gângster, quanto como mago das trevas é colocado não de forma expositiva, e sim como sendo resultado de investigações fundamentais para pegá-lo.

Junto a isso, tanto a qualidade dos efeitos de movimentação quanto a capacidade de seu dublador de transmitem uma personalidade própria e ameaçadora bem definida,  contrastando diretamente com seu tamanho e trajes “fofinhos”, gerando um personagem realmente marcante.

A final girl é a mãe de Andy, Karen, que possui um desafio duplo: entender o que está acontecendo com seu filho e convencer a polícia da real ameaça, sempre sob o sentimento de amargura de não conseguir cuidar da criança direito, não por negligência ou incompetência, mas por suas condições sociais. O resultado é uma emocionante batalha final pela posse da alma do próprio filho.

Um boneco amaldiçoado, um assassino experiente e um feiticeiro maligno, tudo se junta em um único vilão icônico que conquista a cultura pop até os dias de hoje.

por Luiz Cecanecchia – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

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