Resenha: “Baile de Máscaras”

Créditos: Divulgação / Lucas Pagani

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam.

“Baile de Máscaras”, o romance de estreia de Lucas Pagani e lançado pela editora Ascensão, nos leva à a fictícia cidade de São Filipe, onde um assassinato em uma festa de formatura perturba a aparente tranquilidade e nos revela os segredos por trás da elite local.

A verdadeira protagonista da história é a família Batista, com três gerações contendo seus sonhos, medos, manias e relacionamento, multiplicando sua fortuna enquanto crescem com a cidade.

Desta forma, a narrativa é muito mais um drama familiar complexo do que uma história de suspense, nos dando detalhes tanto do dia a dia, quanto da psique de dezenas de personagens de dentro da família ou diretamente ligados a ela.

Com isso, há um ritmo similar a uma novela da Globo, ganhando mais velocidade de investigação só no segundo terço do livro com a entrada da Policial Diana. Não é um ponto positivo ou negativo, mas o estilo adotado pela obra.

Alguns personagens me cativaram, como a senhora Zefa, uma velhinha de cabelo verde extremamente agitada e lúcida; o padre Galieu,  transbordando de humanidade; e a trágica Marcela, cuja fortuna nunca disfarçou os sérios problemas com os pais.

Há uma repetição demasiada de informação, a ponto que seria possível suprir quase todo o primeiro terço do livro já que a maior parte é reapresentada na investigação policial, inclusive geraria maior impacto das descobertas.

Também há certa falta de refinamento na descrição das questões sociais que tenta abordar. Temos uma pessoa sendo descrita com uma renda satisfatória para, a seguir, o texto mostrá-la com acesso a uma série de produtos caros e com casa própria, claramente alguém da classe média alta. Ou um personagem que diz ter conseguido um apartamento simples na mesma rua da mansão do pai, sendo que em bairro de mansões no mundo real, quase toda habitação vai ser cara ou de luxo.

E estamos falando de pessoas ricas, com casas grandes, sem nenhum empregado. Os personagens que não são ricos têm uma descrição muito limitada, sendo a maior caracterização deles a forma como foram ajudados por alguém abastado, embora da maneira como são descritos, parecem ter o mesmo estilo de vida dos milionários da cidade.

Problemas textuais que seriam resolvidos com uma maior variedade de leitores beta e uma revisão mais minuciosa. Mesmo que haja alguma afirmação do tipo “mas onde vivo, vi tal coisa”, em um texto literário é preciso criar um contexto, um universo que mergulhe o leitor em seu interior. E, se a trama se passa em um mundo bem semelhante ao nosso, os pontos de estranheza precisam ser devidamente elaborados.

Não tenho reclamações quanto às reviravoltas finais que, de fato, são bem coerentes e explicam de forma clara cada um dos mistérios exibidos anteriormente. Para quem está mais acostumado a telenovelas, “Baile de Máscaras” pode servir como uma boa entrada no mundo do suspense policial pela grande semelhança de ritmo.

Definitivamente, o autor possui um potencial grande, em especial no que diz respeito à sua capacidade de gerar empatia, de maneira que adoraria ver livros mais elaborados dele no futuro.

por Luiz Cecanecchia – especial para A Toupeira

Filed in: Livros

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