“Sinfonia da Sobrevivência”, filme rodado em Mato Grosso que leva o espectador para dentro das queimadas no Pantanal, foi eleito pelo público um dos finalistas da Competição de Novos Diretores da 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O anúncio foi feito na noite desta quinta-feira e reflete a atualidade do tema em um ano de incêndios florestais devastadores, que cobriram de fumaça a capital paulista e outras grandes cidades do país.
Com experiência no registro de guerras, o cineasta Michel Coeli enfrentou o calor das chamas para mostrar de perto o combate ao fogo e o dramático socorro aos milhões de animais afetados.
“Fico muito feliz com o reconhecimento do público ao filme. Acho que conseguimos mostrar a dimensão da destruição e sensibilizar para o drama das pessoas e dos animais que estão no meio do fogo. A eleição entre os finalistas mostra que parte dos paulistas está mais atenta aos incêndios”, analisa ele.
Filmado majoritariamente em plano subjetivo (quando a câmera assume a perspectiva do olhar de uma pessoa), o documentário transforma o espectador em testemunha da tragédia e do trabalho incansável de bombeiros, brigadistas, veterinários e voluntários. Desa forma, propõe uma experiência imersiva e sensorial, que se afasta da linguagem jornalística.
Um personagem se destaca em meio aos esforços em Mato Grosso. Bombeiro aposentado, o coronel Barroso lidera com rigor e urgência o trabalho de fornecimento de alimentos e água aos animais sobreviventes e desidratados.
“A gente só tem noção da dimensão e da complexidade da tragédia quando a vê de perto. O assunto sai da grande imprensa e a gente acha que o fogo apagou e o problema está resolvido. Não é bem assim. O impacto da devastação faz com que os animais sigam sofrendo por conta da falta de alimentos e água”, afirma Coeli.
“O filme mostra a batalha desse bombeiro aposentado para conseguir caminhões pipa e abastecer a fauna da planície mais alagada do planeta. É uma contradição”, explica, fazendo um paralelo com as zonas de conflito e abrigos de refugiados que visitou: “São situações diferentes de sofrimento, mas todas causadas pela ação do homem e pela inércia dos Estados”.
Ainda sem data de estreia nos cinemas, “Sinfonia da Sobrevivência” teve sala cheia e recebeu elogios em sua première, realizada no primeiro dia da Mostra. Também teve mais uma exibição nesta sexta-feira (25) às 15h15 no Cinesystem Frei Caneca 1.
Dados
Apenas em 2020, ano das piores queimadas no Pantanal, cerca de 26% da vegetação nativa do bioma foram consumidas pelo fogo segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em 2020, quase 60% dos focos de incêndios no Pantanal foram provocados por ações humanas segundo investigação dos ministérios públicos de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Os incêndios no bioma afetaram pelo menos 65 milhões de animais vertebrados e 4 bilhões de invertebrados, segundo estudo do Ibama, da Embrapa e da Cenap (Conservação de Mamíferos Carnívoros), e seus impactos sobre a biodiversidade podem ir muito além do que sabemos.
As queimadas também comprometem enormemente a saúde humana e o fornecimento de recursos fundamentais a nossa sobrevivência, como a água.
Sinopse:
Em meio às chamas Das queimadas que atingem o Pantanal, o diretor Michel Coeli testemunha de forma imersiva a luta dos animais por sobrevivência em busca de água e comida. Bombeiros e voluntários tentam minimizar os impactos do desastre enquanto enfrentam o fogo incontrolável e as burocracias do Estado.
da Redação A Toupeira